"TERNURA E BONDADE NÃO SÃO SINAIS DE FRAQUEZA E DESESPERO, MAS SIM MANIFESTAÇÕES DE FORÇA E RESOLUÇÃO".

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Assombro

"Ao meditarmos a vida de Cristo, somos desafiados pelo mistério da cruz e do amor incondicional de Deus. É difícil aceitarmos o paradoxo da Cruz! Como pode Alguém, que acabou numa cruz, ser o Filho de Deus? A nossa mente recusa-se a lidar com o que parece ser uma contradição. Cristo é o paradoxo de Deus, e a sua cruz é um mistério para nós. Paulo soube muito bem defini-lo: é escândalo e é loucura! Na realidade, tanto no tempo de Jesus como no nosso tempo, para muitos, a Cruz pode ser uma pedra de tropeço." 
Rina Risitano, fsp

 
 
 
 
 
 
 
 
A Transfiguração (uma das 18 imagens de Sieger Köder)
in "A loucura de Deus"

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A Aliança




"O Senhor é a minha luz e a minha salvação." Sl 26(27)
 


Estamos no segundo domingo da Quaresma e hoje o Evangelho fala-nos da Transfiguração do Senhor, um episódio que foi profundamente marcante na vida dos seus seguidores!


Gosto especialmente deste Evangelho porque tem tanto de misterioso como de belo! Encanta-me poder imaginar a Luz que se expandiu pelo Céu e em redor do monte, onde Jesus se encontrava para rezar…sim, gosto muito, mas sinto-me, também, muito interpelada por ele! E hoje, depois de o meditar, dei comigo a pensar em como é que é possível que, no nosso dia-a-dia, possamos ter atitudes tão contraditórias! Sim, contraditórias mesmo!!! Por um lado, apregoamos a nossa fé e o nosso amor a Deus e, por outro, pactuamos com comentários e críticas sobre o que lemos e ouvimos os outros dizerem… é verdade… estou a referir-me às notícias que temos ouvido nestes dois, ou três, últimos dias…! Lemos e ouvimos, mas não presenciamos, contudo, temos que ter sempre uma palavra sobre o assunto e, na maioria das vezes, nem sequer é a mais adequada!

Tenho o coração apertado com tanta notícia triste e desagradável! É verdade que o que vamos ouvindo dói profundamente! Olho para o Santo Padre e condoo-me ainda mais! Meu Deus, como é possível tanta violência?! Sinto que tudo isto é uma violência!...

De repente paro e penso…meu Deus! E Tu como estás? Como Te sentes? Tu, o Todo Poderoso, como permites?

Tento encontrar uma resposta…mas não é fácil! Debruço-me sobre a primeira leitura (Gn 15, 5-12.17-18) e percebo como Deus ficou deveras agradado com Abraão, ao perceber a total confiança n’Ele e a entrega absoluta à Sua Palavra!

Passo para a segunda leitura (Fl 3, 20-4, 1) e leio: “Sede todos meus imitadores, irmãos, e olhai atentamente para aqueles que procedem conforme o modelo que tendes em nós. É que muitos - de quem várias vezes vos falei e agora até falo a chorar - são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: o seu fim é a perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha - esses que estão presos às coisas da terra.” (Fl 3, 17-19)

Depois disto, será preciso dizer mais alguma coisa? Eu fico esclarecida…Deus fala-me e eu escuto-O e entendo-O, sem qualquer dificuldade…! E tu?

Volto atrás…ao Evangelho! O que acontece com Pedro, Tiago e João? Estão os três junto de Jesus e desfrutam da Sua amizade de forma especial! Detenho-me em Pedro e pergunto-me: como reagiu ele àquele momento? Ficou, sem dúvida, deslumbrado…fascinado…mas não percebeu a mensagem! Alegrou-se e, num desejo de eternizar um momento, passageiro, propôs que se fizessem três tendas…mas Deus chama-o à atenção dizendo-lhe que escute o que o Seu Filho tem a dizer! 

E nós, não seremos como Pedro? Será que conseguimos perceber que o que mais necessitamos na nossa vida é ouvir Jesus?

Estamos na Quaresma, é fundamental deixarmos de viver na ambiguidade da possibilidade do bem e do mal! É importante perceber quais são as verdadeiras dificuldades na renúncia e na penitência. O que distingue o autêntico do supérfluo! O que devemos estabelecer como prioridade e o que é secundário! Enfim, assumir quem é o Absoluto da nossa vida!

Tudo o que sou e o que tenho, a forma como me relaciono com os outros, aquilo que sou no mais íntimo do meu ser…tudo…mas tudo mesmo, só tem valor se for vivido na medida em que me relaciono com Cristo!

Assim, o meu caminho é o caminho da Cruz! E é esse Caminho que eu quero continuar a fazer com Jesus!

S.S.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um dia

Um dia descobri o sol

E adormeci com o luar!
Um dia olhei para Ti
E jamais Te pude largar!

Um dia parei e esperei ...
Um dia vi-Te sorrir...
Um dia ouvi-Te chamar-me...
 
 
Um dia, então, percebi,
Que o comum não me atrai...
Que o Amor é eterno,
Que Tu és dom e alegria...
Um dia descobri...
Como És importante demais!

 
S.S.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Viver a Quaresma em Ano da Fé




Na mensagem para a Quaresma 2013, D. Manuel Felício escreve:

“A Quaresma é, em cada ano, um apelo especial feito a todos os cristãos e comunidades cristãs para progredirem na renovação da Fé. É mesmo muitas vezes apresentado este tempo santo como sendo o grande retiro do Povo de Deus, preparatório da celebração da Páscoa, em que somos convidados a renovar as nossas promessas baptismais, na Noite Pascal.

 A Fé constitui para nós, antes de mais nada, abertura do coração a Deus, à revelação do Seu amor verdadeiramente apaixonado e gratuito, na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E sabemos que este amor de Deus, na medida em que o deixamos entrar na nossa vida, faz de nós criaturas novas, invadidas pelo amor de Cristo e, por ele, mobilizadas para o amor dos irmãos. A experiência do Apóstolo Paulo, quando diz na Carta aos Gálatas “já não sou que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,20) inspira-nos a viver a verdadei­ra conversão que há-de marcar o ritmo da nossa quaresma em Ano da Fé. De facto, precisamos de desimpedir todos os caminhos para deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar como Ele amou. Por isso, a Fé que professamos e celebramos e que alimenta a nossa vida de oração leva-nos a viver como verdadeiros discípulos de Cristo. Não se pode viver a relação com Deus à margem das suas implica­ções na vida da relação com os outros e em sociedade. Sobre a coerência entre a Fé e a moral, ou seja entre a relação com Deus e a relação com os irmãos, diz o Papa Bento XVI: “A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e força que daí derivam para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus” (Mensagem de Bento XVI para esta Quaresma). Contemplação e acção completam-se e exigem-se, assim, mutuamente em todo o processo do nosso verdadeiro crescimento, onde a relação com Deus é decisiva e a partir dela ganha nova qualidade e novo sentido a relação com os outros e comunitária. De facto o vertical da relação com Deus dá novo sentido e nova profundidade ao horizontal da relação com os outros, no amor. Por outras palavras, a verdadeira Fé desabrocha necessariamente em gestos de Caridade.
Dar passos para que a nossa Fé produza abundantes frutos de Caridade é o grande apelo desta Quaresma. E a renúncia quaresmal, que mais uma vez propomos e este ano queremos orientar para fortalecer o nosso Fundo Diocesano de Solidariedade Inter-eclesial, é forma que oferecemos a todos os fiéis e comunidades cristãs para darem cumpri­mento a esta relação entre Fé e Caridade.
Com este Fundo Diocesano de Solidariedade Inter-eclesial pretendemos, por um lado, criar condições materiais para ir em auxílio de paróquias e outras instituições da nossa Diocese que se apresentam com manifestas carências; por outro, dispor de meios para dar resposta a necessidades várias de fora da nossa Diocese sobre as quais nos chegam constantemente notícias e pedidos. Ao constituir este Fundo Diocesano de Solidariedade Inter-eclesial pretendemos que o aprofundamento da Fé para que a Quaresma nos convoca possa traduzir-se em gestos concretos de comunhão desejados pelo próprio Jesus Cristo”.
 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Começou a jornada...


uma viagem de quarenta dias ...

Para trás ficaram os preparativos para uma longa caminhada,
o que é preciso levar, mas principalmente o que é preciso deixar...
Porque uma caminhada não se faz carregado,
muito menos quando se vai para o território da 
luta.

Já passou o tempo da azáfama, dos sonhos esperançados pela chegada da Hora 
e o que outrora parecia distante, está a fazer-se agora.
É tempo de Parar. 
A 
Hora está próxima...

Hoje é o 
primeiro dia,
a ansiedade, o entusiasmo e o 
Espírito encarregaram-se de não nos deixar dormir.

Esboçamos o primeiro Agradecimento
- já com os pés no caminho - 
... este tempo vai ser de fazer 
Memória Agradecida da História do que nos trouxe até aqui.

Pela frente temos um 
Caminho de quarenta dias cheios de sinais,
- que requerem de nós um olhar atento e uma vontade disponível -
e também de 
preparativos


Effatha! Abre-te
 
É tempo de abrir os olhos, os ouvidos, a mente, a boca... 
e começar a experimentar e saborear tudo de maneira nova,
como quem se prepara para 
Nascer de novo...

...e fazer Caminho que nos levará ao Amor Primeiro.


(Paróquia de S. Pedro da Covilhã - Eucaristia das 19:15 -  4ªfeira de Cinzas - 13/02/2013) 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Domingo I da Quaresma

"Clamámos ao Senhor, Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu o nosso clamor, viu a nossa humilhação, os nossos trabalhos e a nossa angústia, e tirou-nos do Egipto, com sua mão forte e seu braço estendido, com grandes milagres, sinais e prodígios. Introduziu-nos nesta região e deu-nos esta terra, terra onde corre leite e mel." (Dt 26, 7-9)
 

O tempo quaresmal é um tempo favorável para os cristãos, que vivem a ambiguidade da possibilidade do bem e do mal. Ele recorda os quarenta anos do povo de Israel durante o Êxodo, bem como as tentações durante os quarenta dias de Jesus através do deserto. O povo de Israel padeceu tentações, absteve-se e jejuou até chegar à terra onde corria leite e mel.
Cristo consagrou a observância quaresmal recusando transformar as pedras em pão, pois estava convicto que o homem não vive só do pão material. O cristão não está isento de caminhar através do deserto e ser tentado, mas está seguro que por Cristo, que Se fez Pão para a nova humanidade, aprenderá a superar as tentações e alcançará a Terra Prometida.
(Extraído da Liturgia Dirária - Ano XI - nº 119 - 17/02/2013)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Crer na caridade suscita caridade


MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2013 


Crer na caridade suscita caridade  
«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (
1 Jo 4, 16)  

Queridos irmãos e irmãs!
A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.
1. A fé como resposta ao amor de Deus
Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est, 1). A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.
«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).
2. A caridade como vida na fé
Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).
Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).
3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialéctica». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo moralista.
A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012). De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8).
Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.
A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
4. Prioridade da fé, primazia da caridade
Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).
Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).
A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).
Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!
Vaticano, 15 de Outubro de 2012

 
BENEDICTUS PP. XVI