O Inverno chegou e com ele o frio e a neve. Ao longe, a cidade assemelhava-se a um presépio. Pela colina abaixo desenhava-se o casario e por detrás erguia-se, majestosa, a montanha brilhando com o seu manto branco. E assim chegava, também, o Natal!
As ruas enchiam-se de gente e as montras, das lojas, exibiam estranhos contrastes de cores e de luz. Crianças e jovens percorriam-nas, de lés a lés, entrando e saindo, à procura do mais belo presente.
Bem ali ao lado, sentado num degrau, um jovem, com ar triste e cansado, fixa com um olhar, ausente e vítreo, o reboliço à sua volta. Na sua cabeça passavam imagens de mesas cheias de deliciosas iguarias, crianças com ternos sorrisos nos lábios, presentes espalhados pelo chão, luzes acesas por todo o lado…belo, encantador, mágico…de imediato sentiu-se ele próprio uma delas. O frio deixara de se fazer sentir, os seus olhos recuperaram o brilho, que um dia haviam tido, os seus lábios expressavam o mais belo sorriso e as suas roupas estavam limpas e macias. Com os outros cantava cânticos de alegria e de esperança e o ar enchia-se daquela linda melodia. A tristeza havia dado lugar à alegria, a desilusão à esperança, a fome à fartura, a amargura à ventura…o ar cheirava a rosmaninho e estrelas brilhavam na noite escura iluminando todo o caminho. Era Natal!
Um vento frio soprou e arrancou-lhe o doce pensamento, fazendo com que despertasse para a triste realidade que o envolvia como garras de aço, prendendo-o violentamente a uma dor da qual não havia palavras que pudessem descrever. Com o coração cheio de amor, apesar de tanta mágoa, rezou, pedindo a Deus que o ajudasse a suportar a triste sorte. Revirou-se no chão, ajeitou-se no parco pedaço de cartão, que lhe servia de leito, fechou os olhos e adormeceu, com um sorriso nos lábios, no sonho da eternidade.
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