"TERNURA E BONDADE NÃO SÃO SINAIS DE FRAQUEZA E DESESPERO, MAS SIM MANIFESTAÇÕES DE FORÇA E RESOLUÇÃO".

domingo, 24 de março de 2013

Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste



Com o Domingo de Ramos chegamos à Semana Santa, durante a qual somos todos interpelados a meditar na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus que, ao entregar, voluntariamente, a Sua vida, revela-nos o grande Amor divino e liberta-nos das amarras do egoísmo e do cativeiro do pecado. Este dia representa a entrada de toda a vida cristã e ajuda-nos a viver o mistério da Paixão e Morte de Cristo!

Na liturgia da Palavra de hoje estes três textos marcaram-me de forma mais profunda:

«Mestre, repreende os teus discípulos». Mas Jesus respondeu: «Eu vos digo: se eles se calarem, gritarão as pedras.»

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo.

Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz.”

Jesus desafia-nos a reforçar a nossa fé e a renovarmos o nosso coração. Aconselha-nos a ser verdadeiros discípulos e a percorrer os Seus caminhos, ainda que estes sejam tortuosos e cheios de obstáculos! Nada nos pode deter, nada nos pode desviar!

Como verdadeiros discípulos devemos acompanhar Jesus e carregar, com Ele, a Sua Cruz! Como verdadeiros discípulos devemos trocar a crítica pelo elogio, a inveja pelo desapego, a mentira pela verdade, a injúria pela rectidão, a maldade pela generosidade, a maledicência pela caridade! Como verdadeiros discípulos é necessário escutar o que Deus nos diz sem resistências e sem recuos. Primeiro é necessário escutar para que depois se possa levar ao mundo a Boa Nova...é assim que a nossa fé é alimentada!

O discípulo sabe” dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos”.  
  
S. Lucas na descrição da Paixão de Cristo dá ênfase a quatro momentos: a Última Ceia, a Agonia, o Julgamento e a Condenação e a Crucifixão!

Jesus fala da Sua morte, da traição, isola-se para pedir ao Pai que o livre da agonia e, em todos estes momentos, sente-se infinitamente só! Este sentimento é claro na descrição do evangelista, durante a Ceia, quando nos diz que, enquanto Jesus fala da Sua morte, os discípulos discutem sobre quem entre eles é o maior e quando se encontra no Horto, os amigos entram num sono profundo! A partir deste momento é preso, acusado, condenado e, finalmente, crucificado! 

Sem dúvida que só quem ama verdadeiramente é capaz de tal prova! Será que conseguimos avaliar, correcta e conscientemente, o sofrimento de Jesus?

Somos discípulos, sabemos que Cristo morre na cruz para nos salvar e é este o Amor total e absoluto de Deus para com cada um de nós. É na cruz que Jesus assume todo o sofrimento e fá-lo por cada um de nós! É na cruz que Ele assume a dor da crítica, da injustiça, da mentira, da rejeição! É na cruz que Jesus se torna solidário com cada um de nós! É na cruz que, em silêncio, nos mostra o derradeiro momento de uma vida feita de dom e de graça para nos salvar. Cristo veio para nos redimir do nosso pecado que torna o Seu sofrimento ainda mais profundo. 

E nós, discípulos, como vamos viver esta semana? Vamos querer saber quem entre nós é o maior ou ainda dormir indiferentes à agonia que Jesus, em breve, irá viver?

Façamos silêncio e invoquemos o Espírito Santo pedindo-Lhe que nos ajude a entrar em contacto com Deus para que possamos despertar para o verdadeiro motivo da cruz, para tudo o que nos aproxima do caminho da Salvação.
S.S



sábado, 23 de março de 2013

Desiderata


Caminha placidamente entre o ruído e a pressa. Lembra-te de que a paz pode residir no silêncio.
Sem renunciares a ti mesmo, esforça-te por seres amigo de todos.
Diz a tua verdade quietamente, claramente.
Escuta os outros, ainda que sejam torpes e ignorantes; cada um deles tem também uma vida que contar.
Evita os ruidosos e os agressivos, porque eles denigrem o espírito.
Se te comparares com os outros, podes converter-te num homem vão e amargurado: sempre haverá perto de ti alguém melhor ou pior do que tu.
Alegra-te tanto com as tuas realizações como com os teus projectos.
Ama o teu trabalho, mesmo que ele seja humilde; pois é o tesouro da tua vida.
Sê prudente nos teus negócios, porque no mundo abundam pessoas sem escrúpulos.
Mas que esta convicção não te impeça de reconhecer a virtude; há muitas pessoas que lutam por ideais formosos e, em toda a parte, a vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo. Sobretudo, não pretendas dissimular as tuas inclinações. Não sejas cínico no amor, porque quando aparecem a aridez e o desencanto no rosto, isso converte-se em algo tão perene como a erva.
Aceita com serenidade o cortejo dos anos, e renuncia sem reservas aos dons da juventude.
Fortalece o teu espírito, para que não te destruam desgraças inesperadas.
Mas não inventes falsos infortúnios.
Muitas vezes o medo é resultado da fadiga e da solidão.
Sem esqueceres uma justa disciplina, sê benigno para ti mesmo. Não és mais do que uma criatura no universo, mas não és menos que as árvores ou as estrelas: tens direito a estar aqui.
Vive em paz com Deus, seja como for que O imagines; entre os teus trabalhos e aspirações, mantém-te em paz com a tua alma, apesar da ruidosa confusão da vida.
Apesar das suas falsidades, das suas lutas penosas e dos sonhos arruinados, a Terra continua a ser bela.
Sê cuidadoso.
Luta por seres feliz.


(Inscrição datada do ano de 1692. Foi encontrada numa sepultura, na velha igreja de S. Paulo de Baltimore – hoje já não se pensa que seja esta a origem, mas assim é mais bonito…o verdadeiro autor: Max Ehrmann )

sexta-feira, 22 de março de 2013

O menino de sua mãe


Estava aqui pensando nos velhos tempo de escola...será que velhos é palavra correcta? 

Bem, talvez velhos não serão já que tempos de escola são sempre tempos presentes, pelo menos no livro da nossa memória e o presente não é velho! Ou será?! 

Mas hoje esses tempos parecem tão distantes...não havia telemóveis, mas conseguíamos comunicar uns com os outros na perfeição...podia não ser naquele preciso instante, mas era na altura certa e tudo se fazia e conseguia com tranquilidade.

Estava aqui a pensar nos velhos tempos de escola...

Que diferentes que nós éramos, como eram também diferentes os nossos sonhos, as nossas ambições, as nossas perspectivas em relação ao futuro...que diferentes éramos!

Estava aqui a pensar...e veio-me à memória aquela aula de Língua Portuguesa...o professor chamava-se Guilherme e era um apaixonado por basquetebol...era não apenas o Professor, mas o amigo! De repente, recordo-me de um poema, que declamei e me proporcionou uma nota excelente e, ainda hoje, consigo saber de cor...

Que maravilha ter um professor que ensina, nos velhos tempos de escola e se mantém presente até hoje!




"No plaino abandonado 
Que a morna brisa aquece, 
De balas trespassado — 
Duas, de lado a lado —, 
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue. 
De braços estendidos, 
Alvo, louro, exangue, 
Fita com olhar langue 
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era! 
(Agora que idade tem?) 
Filho único, a mãe lhe dera 
Um nome e o mantivera: 
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira 
A cigarreira breve. 
Dera-lhe a mãe. Está inteira 
E boa a cigarreira. 
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada 
Ponta a roçar o solo, 
A brancura embainhada 
De um lenço... Deu-lho a criada 
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece: 
"Que volte cedo, e bem!" 
(Malhas que o Império tece!) 
Jaz morto, e apodrece, 
O menino da sua mãe."

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Recomeça...

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.


Miguel Torga

terça-feira, 19 de março de 2013

Não devemos ter medo da bondade, da ternura

Entretanto a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Génesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!

Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos «guardiões» da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para «guardar», devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.

A propósito, deixai-me acrescentar mais uma observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. 
Não devemos ter medo da bondade, da ternura!


Hoje, juntamente com a festa de São José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afecto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que servem com amor capaz de proteger.

Na segunda Leitura, São Paulo fala de Abraão, que acreditou «com uma esperança, para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). Com uma esperança, para além do que se podia esperar! Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança! E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus.

Guardar Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!


Peço a intercessão da Virgem Maria, de São José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim!

Ámen.

(Excertos da homilia do Papa Francisco)

domingo, 17 de março de 2013

A passagem da Lei ao Amor

Deus nunca se cansa de nos perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão
O Senhor perdoa tudo. Se o Senhor não perdoasse tudo, o mundo não existiria. 
O rosto de Deus é o de um Pai misericordioso, que tem sempre paciência. Já pensaram na paciência de Deus, na paciência que tem com cada um de nós? 
Não ouvimos palavras de desprezo, de condenação, mas apenas palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão.”  (Papa Francisco - Primeiro Angelus - 17/03/2013)

Rapidamente nos aproximamos do final da Quaresma! Estamos, já no 5º domingo e a nossa peregrinação está repleta de provações e dificuldades!

Que mensagem nos trazem as leituras de hoje? Que temos para aprender com elas?
Como temos vivido estes dias que antecedem o tão esperado momento?
Como tem sido a minha atitude em relação ao meu irmão?
Terei agido em conformidade com o Amor, ou a Lei é mais importante para mim?
Terei tomado o verdadeiro caminho que me leva à conversão?

Estas e tantas outras questões podem ser feitas sobre cada uma das nossas atitudes durante estes dias que antecedem a glória da Ressurreição! Estas e tantas outras questões...

É tempo de abandonarmos a nossa visão limitada e transformarmo-nos em cristãos serenos, comprometidos e lúcidos sobre a vontade de Deus! O que temos aprendido nesta nossa caminhada de fé? 

Todos queremos conhecer a Luz, mas muitos desconhecemos o caminho a percorrer para a alcançar!

Estamos quase a terminar este período de deserto e hoje somos convidados a reflectir no perdão e nas suas consequências. Quando aceito converter-me e o faço com sinceridade, sei que me comprometi a abandonar todas as atitudes passadas que me afastam do Caminho da Luz! Sei que estou em condições para receber o perdão divino e então acredito que vou realizar uma coisa nova!

Diz-nos o Senhor: "Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes?"  Is 43, 19

Lanço-me para a frente como quem corre, não com o objectivo de chegar primeiro à meta, mas com a certeza de poder alcançar o perdão divino, a salvação em Jesus Cristo Nosso Senhor...a garantia da vida eterna! O melhor sinal de arrependimento e sentimento de emenda, é o desejo sério e sincero de alcançar a santidade!

"Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que fui alcançado por Cristo Jesus. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus." Fl 3, 12-14

Na história da mulher adúltera que hoje o evangelista João nos conta, percebemos que Jesus é rico em misericórdia. Este Evangelho mostra-nos, claramente, que é importante distinguir entre a mentira de quem acusa e a verdade de quem está, de facto, arrependido, entre a hipocrisia de quem julga e a sinceridade de quem reconhece que é pecador e se arrepende com todo o coração. 

Deus é um Deus de Amor e de Perdão e aqui conseguimos ver reflectida, de forma extremamente clara, a passagem da Lei ao Amor! Deus não condena, não acusa, não julga...o nosso Deus de amor convida-nos à conversão e à comunhão. O que Deus condena é o pecado, não é o pecador!

"Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar." Jo 8, 11


Ressalta aqui a mensagem de que é tempo de nos prepararmos para o sacramento da reconciliação, o sacramento da alegria, que nos liberta do peso dos nossos pecados. É tempo de parar e reconhecer a nossa debilidade. É tempo de conversão. É tempo de abrir o coração e deixar que Deus se instale nele de forma a realizar uma coisa nova!

S.S.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Caminhar, edificar, confessar


Vejo que estas três Leituras têm algo em comum: é o movimento. Na primeira Leitura, o movimento no caminho; na segunda Leitura, o movimento na edificação da Igreja; na terceira, no Evangelho, o movimento na confissão.

Caminhar, edificar, confessar.

Caminhar. «Vinde, Casa de Jacob! Caminhemos à luz do Senhor» (Is 2, 5). Trata-se da primeira coisa que Deus disse a Abraão: caminha na minha presença e sê irrepreensível. Caminhar: a nossa vida é um caminho e, quando nos detemos, está errado. Caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor, procurando viver com aquela irrepreensibilidade que Deus pedia a Abraão, na sua promessa.

Edificar. Edificar a Igreja. Fala-se de pedras: as pedras têm consistência; mas pedras vivas, pedras ungidas pelo Espírito Santo. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela pedra angular que é o próprio Senhor. Aqui temos outro movimento da nossa vida: edificar.

Confessar. Terceiro, confessar. Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência. Quando não se confessa Jesus Cristo, faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: «Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo». Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demónio.

Caminhar, edificar-construir, confessar. 

Mas a realidade não é tão fácil, porque às vezes, quando se caminha, constrói ou confessa, sentem-se abalos, há movimentos que não são os movimentos próprios do caminho, mas movimentos que nos puxam para trás.

Este Evangelho continua com uma situação especial. O próprio Pedro que confessou Jesus Cristo com estas palavras: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, diz-lhe: Eu sigo-Te, mas de Cruz não se fala. Isso não vem a propósito. Sigo-Te com outras possibilidades, sem a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor.

Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante.

Faço votos de que, pela intercessão de Maria, nossa Mãe, o Espírito Santo conceda a todos nós esta graça: caminhar, edificar, confessar Jesus Cristo Crucificado. Assim seja.



quinta-feira, 14 de março de 2013

No dia da Poesia, em jeito de poesia...


És Tu, Senhor,

Quem melhor conhece
Os meus desejos, a minha vontade...
A razão de ser da minha vida!

Quem melhor conhece
A minha tranquilidade, a minha paz...
A razão de ser da minha força!

Quem melhor conhece
Os meus objectivos, a minha felicidade...
A razão de ser da minha busca!

Quem melhor conhece
Os meus sonhos, as minhas batalhas...
A razão de ser da minha alegria!

Quem melhor conhece
Os meus anseios, a minha fortuna...
A razão de ser da minha ternura!

És Tu, Senhor,
Quem melhor conhece
A minha verdade, a minha essência...

E mais do que me conhecer...

És Tu, Senhor,

Quem me consola, quando estou triste,
Quem me ilumina, quando estou confusa,
Quem me ampara, quando perco a força,
Quem me abraça, quando estou cansada,
Quem me leva ao colo, quando me sinto só!

Sim...

És Tu, Senhor!

S.S.

(Ícone da Santíssima Trindade de Andrei Rublev)

quarta-feira, 13 de março de 2013

É preciso renascer

Hoje foi, de facto, um dia extraordinário...um dia repleto de acontecimentos fortes mas, graças a Deus, envolvidos em muito amor!
Às 18:06, enquanto terminava uma das actividades que tenho em mãos, através do skype, um amigo diz-me: "Saiu fumo branco!" 
Não é fácil transmitir em palavras a emoção que senti! Confesso que, inicialmente, pensei que brincava comigo, mas rapidamente verifiquei que era realmente verdade...já tínhamos Papa! Que alegria! Que maravilha...temos Papa!!!
E, em seguida, a pergunta: "Quem será?"
Ao fim de pouco mais de uma hora, o Cardeal Proto-Diácono comunica o Habemus Papam, anuncia o seu nome cardinalício e o nome escolhido como Papa:

"Jorge Mario, Cardeal Bergoglio, jesuíta, argentino, escolheu o nome de Francisco!"

E aqui foi a explosão...não podia acreditar que tal graça fosse real...o Santo Padre é jesuíta! Mas que extraordinário! Francisco e jesuíta!!! Graças a Deus! Renasce em mim uma força e uma alegria, imensas, que tanto bem me faz nestes tempos tão dolorosos! Papa Francisco, simples e humilde como S. Francisco de Assis! 

Bendito seja o Divino Espírito Santo por nos ter dado este Papa! Bendito seja Deus! Bendito seja Jesus Cristo e Sua Mãe Santíssima! 

Quando se aproximou da varanda ouviu-se a explosão de alegria de todos os que estavam na praça para ver o seu Papa e, à semelhança de Francisco de Assis, cumprimenta a multidão dizendo: "Boa tarde gente boa!" 

Que lindo, sorriso, que lindas palavras, que lindo Homem Deus nos enviou! Foram momentos de uma beleza indescritível e que ficarão guardados, para sempre, no meu coração!

Que Deus o proteja e guarde, Papa Francisco!


"L'amour doit se mettre dans les actes, plus que dans les paroles" – St. Ignace de Loyola

Bênção Apostólica "Urbi et Orbi":
Irmãos e irmãs, boa-noite!
Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde.
[Recitação do Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai]
E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela!
E agora quero dar a Bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.
[…]
Agora dar-vos-ei a Bênção, a vós e a todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade.
[Bênção]
Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa noite e bom descanso!
Bênção Apostólica

domingo, 10 de março de 2013

Saboreai e vede como o Senhor é bom



Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado.” 2 Cor 5, 17

À semelhança do que acontece no terceiro domingo do Advento, o quarto domingo da Quaresma é também designado como o Domingo Laetare, isto é, o domingo da Alegria! E é, realmente, com imensa alegria que esperamos a Páscoa do Senhor! Estamos a meio da Quaresma e o nosso coração alegra-se porque no horizonte conseguimos vislumbrar a grande glória da Ressurreição.

Em perfeita sintonia com esta alegria, S. Paulo diz-nos que, se estamos em Cristo então somos novas criaturas e acrescenta que o mundo velho desapareceu e agora tudo é novo! Parece-me que é, de facto, uma verdade que clarifica o motivo da nossa caminhada…estamos em condições de abrir completamente o nosso coração e deixar que Cristo se enraíze plenamente em nós e na nossa vida. É este o caminho para a nossa salvação! Contudo é necessário que oiçamos o apelo: “reconciliai-vos com Deus”!

Estamos na Quaresma e este é um tempo de silêncio! É no silêncio que Deus nos fala e é em silêncio que o conseguimos escutar! É no silêncio que compreendemos melhor aquilo que nos atormenta e desgosta! É no silêncio que ouvimos a voz do nosso coração! É em silêncio que conseguimos perceber e sentir a nossa conversão! E foi quando caiu no silêncio que o filho mais novo, de que nos fala o Evangelho de hoje, se converte no filho Pródigo! O Pai, ao ver o filho, que julgava perdido, comove-se, abre-lhe os braços e, cheio de amor, acolhe-o com imensa alegria: “Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos.” Lc 15, 20

Não importa o que tenhamos feito, nem por onde andámos, se percebemos que o caminho que seguíamos não era o certo, sabemos que há sempre Alguém que nos Ama e nos Espera!

Há maior alegria do que perceber que todos nós somos extremamente importantes para Deus e que Ele não nos quer perder?!
Há maior alegria do que sentir que Deus está sempre disposto a perdoar-nos e a acolher-nos como filhos muito amados?!
Há maior alegria do que saber que, no fim do caminho, está um Pai de braços abertos e cheio de amor para nos receber?!
Há maior alegria?!

Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.” Lc 15, 31

O silêncio proporciona a reflexão que pode permitir à pessoa uma descida ao fundo de si mesma e abrir-se ao caminho de resposta que Deus inscreveu no seu coração. O silêncio é possibilidade de escutar a Deus e falar com Ele.” Papa Emérito Bento XVI